Nesses
últimos dias tenho ajudado uma amiga em um período ruim, quer dizer, tenho
tentado ajuda-la. Ela me disse sentir falta da pessoa que ela era, e isso me
fez pensar sobre quem eu sou hoje em dia... Sempre senti tanta certeza ao aconselhar
amigas, mas desta vez estou meio perdida e não sei o por quê. Acho que não
estou bem comigo mesma, estou perdida nas minhas idéias e na minha vida.
Nesses
últimos anos eu sinto que me perdi. Não sei se faz parte de crescer ou se foi
pelo rumo que dei a minha vida (ou que ela resolveu seguir sem me consultar),
mas sinto falta de como eu encarava as coisas, de como sabia o que queria. Sinto
falta de como eu era com meus amigos, de como sentia a liberdade para falar o
que pensava, em como eu sentia que a amizade era tão intensa que seria para
sempre e que de como tinha certeza da proximidade e intimidade que tinha com
eles. Hoje em dia me contenho para falar o que penso (o que algumas pessoas
podem até achar positivo), não tenho certeza de quão próxima sou deles e temo
que a amizade acabe.
Acho que
namorar só intensificou minhas inseguranças
quanto as amizades. Me fechei em uma bolha e me acomodei. Alí eu tenho
toda a segurança, liberdade e intimidade do mundo. Me tornei tão dependente que
comecei a me questionar se era saudável. Tentei sair um pouco da bolha, mas
quando vi já estava em cima de uma montanha de insegurança. Mas foi nessa
tentativa que comecei a pensar aonde
estava, como estava e que rumo tinha dado a minha vida.
De repente
me vi em desespero ao pensar o quão longe estava de tudo o que queria e que
tinha planejado para mim. Não estava nos planos me sentir assim, não estava nos
planos me sentir tão dependente e presa a alguém. Mas... Quais eram os planos
mesmo? Tentei me achar e acabei virando não só a minha vida, mas a de mais
algumas pessoas de ponta cabeça. A minha, a dele, as delas. E todos veem essa
mudança como um ato de coragem, que sou eu em busca do que quero, do meu sonho.
Todos, menos eu.
Como é que
posso falar que estou indo atrás do que quero se nem sei o que quero? As vezes
sinto que a minha saída do Brasil foi uma tentativa falha de fugir das minhas
dúvidas e medos. Vir pra cá só intensificou toda a minha confusão, adicionando
uma pitada de tristeza seguida de muita saudade. Estar aqui só me faz querer
mais ainda descobrir o que quero pra mim, qual rumo dar a minha vida, fazer
novos planos. Também tenho refletido sobre como essa minha vinda está afetando a vida de todo mundo que
estava ao meu redor.
Minha irmã
está sem casa, e eu nem lá pra ajeitar a minha bagunça, ajudá-la a achar uma
casa, afinal fui eu quem fez ela sair daonde amava. Mas ela está sozinha, e eu
me sinto responsável. Não consigo nem conversar com ela direito, saber como ela
está, e o que vai acontecer com ela e com a Cora, que nosso amado pai, tão
carinhosamente se recusou a aceitar, inocência a nossa achar que ele iria nos
ajudar agora.
O namorado
está tentando vir pra cá, e eu me pergunto se está certo isso. Está certo ele
mudar toda a vida dele porque um belo dia eu resolvi sair dalí? Temo que ele
esteja tão dependente que não consiga mais ver os próprios sonhos. Nós temos
visões tão diferentes do mundo, ele nem querer sair daonde está quer, já eu
quero morar no mundo todo. Tenho medo de ele vir e eu decidir sair daqui, ir
pra qualquer outro lugar. Não quero ser a responsável por uma mudança tão
grande assim. Também não sei se quero assumir tamanho comprometimento. Eu o
amo, com todo o meu coração, mas eu sinto que ainda não vivi nada, pelo menos
nada do que quero viver antes de assumir um compromisso tão grande. Sei que
temos uma boa diferença de idade e que ter objetivos diferentes faz parte do
relacionamento, mas acho que ele não entende o quanto tudo isso me assusta e o
quanto isso pesa pra mim. Ele já viveu bastante pra poder falar que é comigo
que quer estar, mas não entende que eu tenho só 23 anos, e não consigo decidir
nem que profissão quero seguir...
E é aí que
me encontro de novo sem saber o que fazer, sem saber o que falar ou como agir.
Talvez seja o medo que me trave, o medo de perder os amores, o medo de ficar
sozinha, o medo de mudar, o medo de sofrer, o medo de falhar. Por isso sinto
falta a menina que eu era, que tinha medo, mas sabia fingir muito bem que não
tinha medo de nada disso.